sábado, 6 de março de 2010

Leitura e escrita

Texto: Maurício Canuto


A leitura e escrita na sua relação com o processo de ensino-aprendizagem são temas cada vez mais abordados em pesquisas acadêmicas, em especial, nas realizadas no campo da Linguística Aplicada. O processo de formação leitora e escritora tem lugar central na escola. Como Soares (2001) salienta, cabe à escola pensar em ações que possibilitem aos alunos envolverem-se no mundo do texto e descobrirem o prazer da leitura e da escrita. Também segundo Lerner (2006), a escola precisa mostrar diferentes situações nas quais a leitura e a escrita possam ser trabalhadas com propósitos de atingir os diferentes contextos fora da escola. É, assim, importante questionar a ainda bastante presente  compreensão de que aprender a ler e escrever é matéria da disciplina de Língua Portuguesa (LP) revelada por muitos profissionais da área. Não é demais reafirmar que professores de todas as áreas são, também, professores de leitura, já que por meio dela, os alunos constroem conhecimento tanto na escola, quanto fora dela (Soares, 2001).
Chartier (1998, 2001) discute o processo de desenvolvimento da leitura como prática social, considerando que esta envolve diferentes procedimentos e capacidades e os objetivos particulares da leitura. Nessa direção, segundo Rojo (2003), capacidades perceptuais, práxicas e cognitivas fazem-se presentes durante o ato de ler e, assim como outras, dependem da situação e das finalidades de leitura.
Quanto à discussão sobre gêneros de discurso, Bakhtin (1952-1953/2006) salienta que o uso da linguagem permeia todos os múltiplos campos da atividade humana e o seu emprego se dá em forma de enunciados orais e escritos, em contextos particulares, fora dos quais perde sua completude. Os gêneros do discurso seriam, então, tipos relativamente estáveis de enunciados elaborados em cada campo de utilização da língua. Muitos autores mais recentes desenvolvem a problemática dos gêneros discursivos/textuais e ressaltam sua importância para a compreensão do uso da linguagem como instrumento mediador do sujeito com o meio, na relação com outros. Entre esses autores, Bronckart (2006, 2007, 2008) adota o termo gêneros textuais e propõe um modelo de análise textual que tem sido utilizado por inúmeros pesquisadores  preocupados, por sua vez, com o ensino aprendizagem de língua materna (e.g. Schneuwly, Dolz e equipe; Machado e equipe e muitos outros no Brasil e no exterior).
Na perspectiva desses autores, os gêneros textuais devem ser trabalhados para propiciar que os alunos desenvolvam sua capacidade de mobilizar operações de linguagem, aproximando-se, assim, de situações reais de interação social. Esses autores acreditam que o uso da linguagem, que solidifica diversos gêneros, permite o desenvolvimento humano. Como coloca Bronckart (2006:153), a prática (na produção e na recepção/interpretação) dos gêneros é a principal ocasião de desenvolvimento das mediações formativas, ou seja, as mediações por meio das quais os adultos integram outros adultos (recém-chegados) ao conjunto dos pré-construídos disponíveis em seu ambiente sociocultural. Um trabalho a partir da prática de diferentes gêneros é, assim, um importante espaço de aprendizagem social (Bronckart, 2006:154), pois, dessa forma, aprendemos a adotar e a adaptar um gênero de texto apropriado para cada situação de ação de linguagem em que nos encontramos.
Referências Bibliográficas

BAKHTIN, M. (1952/1953). Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
______. (1929) Marxismo e filosofia da linguagem. 10 ed. São Paulo: Hucitec, 2002.
Bronckart, J. P. (1997). Atividades de linguagem, textos e discursos: por um interacionismo sócio-discursivo. São Paulo: EDUC, 2007.  
LERNER, D. (2006).É preciso dar sentido à leitura. Nova Escola,n. 195, set. 2006. Disponível em:http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0195/aberto/mt. Acessado em:02 out. 2006.   
ROJO, R. H. R. (1995). Concepções não-valorizadas de escrita como “um outro modo de falar” In: KLEIMAN, A.B. (org.) Os significados do letramento: uma nova perspectiva sobre a prática social da escrita. Campinas, SP, 2003: Mercado de Letras.
 SÃO PAULO. 2007. Orientações curriculares e proposição de expectativas de aprendizagem para o ensino fundamental: ciclo II – língua portuguesa. São Paulo: Secretaria Municipal de Educação –SME/DOT
SCHNEUWLY, B.; DOLZ, J. Gêneros orais e escritos na escola. Campinas: Mercado de Letras, 2004.
SOARES, M.B.(1998).Letramento:um tema em três gêneros. Belo Horizonte:Autêntica, 2001.


Um comentário:

Marli Reis disse...

Sabe, gosto desses meus encontros com suas informações!

Abraço!

Marli Reis